terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Pacientemente caminhamos para o forno crematório


Por Celso Esteves
Cena do filme "O Pianista"
Sempre que vemos um filme pela segunda vez, um bom filme é claro, nossos olhos estão muito mais atentos e conseguimos perceber melhor certos aspectos da obra. Depois de uma viagem à Varsóvia, busquei rever o filme “O Pianista”, do diretor Roman Polanski. Inicialmente, para rever imagens de Varsóvia e, é claro, rever a história do jovem pianista Wladyslaw Szpilman durante a invasão alemã no início da 2ª Guerra Mundial.
 Nessa segunda oportunidade, percebi a clareza com que é exposto no filme o processo de dominação do povo Polonês, como tudo foi cuidadosamente planejado e executado. Não foram os devaneios de um louco assassino, como muitos pensam. Existiu um plano! Pergunto: os Nazistas chegaram à Polônia enfileiraram todos os judeus e imediatamente os enviaram para os campos de extermínio? Não. Eles foram passo a passo perdendo os seus direitos até estarem completamente aniquilados na sua moral e autoestima, até o ponto de caminharem pacificamente para os campos de extermínio. Praticamente sem impor resistência. Primeiro as restrições a frequência de determinados locais. Depois deveriam ser marcados com uma faixa no braço. Depois a determinação de que os judeus deveriam se mudar para um determinado local, surge o Gueto de Varsóvia, logos após o gueto é cercado, restrições ao trabalho, doenças, fome, condições desumanas de existência, e outras crueldades. Até que são conduzidos sem nenhuma, ou pouca resistência, aos campos de extermínio. Em determinado momento um personagem indaga outro sobre a supremacia numérica do povo do Gueto e completa: “somos em número muito maior que eles, devemos nos rebelar”! Em que seu interlocutor responde: “como”? A dominação estava completa!
Às vezes, tenho a incômoda sensação de que logo, logo, estaremos caminhando para os campos de extermínio do século 21, se é que já não estamos neles. Senão vejamos: pessoas vendem drogas na porta da nossa casa, nas praças e parques. O que dizem as autoridades? É, isso é uma chaga social. Centenas, milhares de pessoas dormem pelas calçadas, fazendo suas necessidades fisiológicas sem nenhuma parcimônia, sujando, ocupando o patrimônio público, criando constrangimentos. O que dizem as autoridades? É, isso é um problema social.
Nosso trânsito mata cada dia mais pessoas, a selvageria está exposta no dia a dia de qualquer grande cidade brasileira. O que dizem as autoridades? Nosso povo não tem educação. Pessoas morrem diariamente nas filas do sistema de saúde. O que dizem as autoridades? Estamos trabalhando para melhorar. Aposentados morrendo à míngua com proventos miseráveis. O que dizem as autoridades? Não podemos reajustar seus vencimentos, quebraria a Previdência. Somos roubados, assaltados diariamente, às vezes pelo mesmo bandido, ao ponto de uma empresária buscar ajuda em um jornal, por não ter mais a quem recorrer (Zero Hora do dia 23/12/2012). O que dizem as autoridades? Estamos fazendo o possível, nossas leis são assim.
Além disso, somos saqueados com uma das maiores cargas tributárias do mundo, em troca recebemos serviços públicos de péssima qualidade, sem exceções. Políticos encastelados em estruturas caríssimas, consumindo todo o orçamento público. Corrupção e falcatruas versando graciosas, e, na maioria das vezes, impunes Brasil a fora. O que dizem as autoridades? As mesmas respostas evasivas de sempre. Favelas surgem da noite para o dia, em algumas cidades são muito maiores que muitos municípios, criando o já conhecido “Poder Paralelo”.
E por aí segue, não aguento mais nem escrever, todos já sabem, não precisamos de mais exemplos. Precisamos agir, exercer a nossa cidadania. Pois, assim, logo, logo, estaremos caminhando serena e pacificamente em direção a um campo de extermínio do século 21, obviamente que já aprendemos maldades muito melhores, não precisamos lançar mão daquelas artimanhas do passado. Dia a dia temos nossa capacidade de indignação solapada, até o ponto de não mais existir, nesse ponto, só nos restará  caminharmos pacientemente até o forno crematório.

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