sábado, 12 de março de 2011

Os amigos do Rei


Recebi por e-mail e estou postando no Blog. Muito interessante!


"Vou-me embora pra Passárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Passárgada.
(Manoel Bandeira)."


Sentença de  1587  - Trancoso, Portugal
Arquivo Nacional da Torre do Tombo
SENTENÇA PROFERIDA EM 1587 NO PROCESSO CONTRA O PRIOR DE TRANCOSO
(Autos arquivados na Torre do Tombo, armário 5, maço 7) 


"Padre Francisco da Costa, prior de Trancoso, de idade de sessenta e dois anos, será degredado de suas ordens e arrastado pelas ruas públicas nos rabos dos cavalos, esquartejado o seu corpo e postos os quartos, cabeça e mãos em diferentes distritos, pelo crime que foi arguido e que ele mesmo não contrariou, sendo acusado de ter dormido com vinte e nove afilhadas e tendo delas noventa e sete filhas e trinta e sete filhos; de cinco irmãs teve dezoito filhas; de nove comadres trinta e oito filhos e dezoito filhas; de sete amas teve vinte e nove filhos e cinco filhas; de duas escravas teve vinte e um filhos e sete filhas; dormiu com uma tia, chamada Ana da Cunha, de quem teve três filhas. Total: duzentos e noventa e nove , sendo duzentos e catorze do sexo feminino e oitenta e cinco do sexo masculino, tendo concebido em cinquenta e três mulheres". Não satisfeito tal apetite, o malfadado prior, dormia ainda com um escravo adolescente de nome Joaquim Bento, que o acusou de abusar em seu vaso nefando noites seguidas quando não lá estavam as mulheres. Acusam-lhe ainda dois ajudantes de missa, infantes menores  que lhe foram obrigados a servir de pecados orais, completos e nefandos, pelos quais se culpam em defeso de seus vasos intocados, apesar da malícia exigente do malfadado prior.

[agora vem o melhor:]

"El-Rei D. João II lhe perdoou a morte e o mandou pôr em liberdade aos dezessete dias do mês de Março de 1587, com o fundamento de ajudar a povoar aquela região da Beira Alta, tão despovoada ao tempo e, em proveito de sua real fazenda, o condena ao degredo em terras de Santa Cruz, para onde segue a viver na vila da Baía de Salvador como colaborador de povoamento português. El-rei ordena ainda guardar no Real Arquivo esta sentença, devassa e mais papéis que formaram o processo"

quinta-feira, 10 de março de 2011

Alegria de piá

Era mais um dia do intenso verão porto alegrense. Nada de mais acontecia, apenas outro daqueles dias em que se não fosse pelo calendário acusar uma quarta-feira não poderia distingui-la da terça ou da quinta-feira.
Encontrava-me na parada do ônibus, sob o forte calor do meio dia. Pingava suor pela testa, pelo corpo todo... Logo pensei na chance de o veículo de transporte público que iria me levar ao centro da cidade ser desprovido de ar-condicionado, o que aumentava ainda mais meu calor e o estresse.
Finalmente, chegou o ônibus! Para meu desespero, sem ar. Entrei e fui direto para o fundo, em busca de uma escassa corrente de vento. Sentei e o veículo começou a  locomover-se. O silêncio era abissal em seu interior, com exceção do barulho que o próprio ônibus fazia algo como ferro batendo em ferro, como se ele fosse se despedaçar a qualquer momento.
De repente, algo quebrou aquele silêncio. Um piá, como gostamos de dizer aqui no Sul, de uns 10 anos idade, não mais do que isso, adentra ao veículo demonstrando uma súbita felicidade. Fiquei incrédulo, mas ele realmente estava empolgado por estar andando de ônibus em plena quarta-feira, ao meio dia, com muito calor. Para eu atingir aquela mesma felicidade precisaria estar passeando de Ferrari em Miami Beach em meu período de férias.
Cada curva era um motivo para se alegrar. O guri foi direto para o fundo do veiculo e insistia em chamar sua mãe, que o acompanhava na aventura, para demonstrar que estava andando de ônibus. O trajeto até o centro foi um êxtase para aquele  menino que estava muito empolgado com a aventura.
Tenho que admitir uma coisa. De tanto que já andei de ônibus não vejo mais graça alguma. Por um momento, entretanto, lembrei do  pequeno e distante “eu” que se divertia tanto quanto, em poder andar de ônibus e lotação com sua avó. Foi um momento de saudosismo lembrar a emoção e felicidade que sentia nas coisas simples da vida: como poder andar de ônibus em um dia de semana com minha avó!
Voltei à realidade, entretanto. O ônibus havia chegado ao centro... Enquanto o menino descia no final da linha, lembrei que já estava atrasado para o trabalho.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Saudosa sala 511.

Foto: Maurício Esteves
Um relacionamento, qualquer que seja, sempre deixa suas marcas. Alguns objetos ganham significados diferentes. Músicas, cheiros e imagens ganham relevo especial em nossas memórias. Alguns lugares se tornam marcantes. Assim, aconteceu com a sala 511, do prédio 11, da PUCRS ao longo deste relacionamento acadêmico com a faculdade de Direito.
Diariamente, um grupo de acadêmicos ali se reuniam com a intenção de mudar o mundo e o conhecimento jurídico. Grandes discussões foram travadas (nem tão grandes assim). Inúmeras teorias jurídicas tiveram origem nos debates diários do grupo de estudos que na sala 511 se encontravam.
De repente, posso ter exagerado um pouco no que tange a magnitude das contribuições jurídicas que ali tiveram origem. Mas, posso garantir que nossas intenções eram as melhores. Qualquer assunto virava pauta para as conversas: esquerda x direito; comunismo x capitalismo; segurança pública; aborto; pena de morte; história; filosofia; e, nem ao menos Deus nós perdoávamos. Sua existência foi colocada à prova inúmeras vezes.
Realmente, com a ressalva de algumas boas apresentações de trabalhos e projetos de pesquisa naquela sala idealizados, tenho que admitir que não conseguimos mudar o mundo, nem o Direito. Mas, tentamos arduamente.
Infelizmente, nem ao menos os encontros do grupo conseguimos manter. A sala 511, tristemente, não percebe mais nossa diária presença, bem como não conseguimos mais desfrutar de suas confortáveis e instigantes acomodações. Trata-se do fim deste belo relacionamento. Sabia que um dia iria chegar, mas é triste admitir que esse dia chegou tão rápido!
Um dia, quem sabe, esse grupo de amigos, que graças a sala 511 uniu fortes laços de amizade durante esse período, batizada de “A santíssima Trindade e Cia”, possa retomar sua tarefa de tentar mudar o mundo. Sinceramente, espero nunca atingir este objetivo, pois foram as várias tentativas que proporcionaram o crescimento intelectual e humano, sempre ao abrigo da saudosa sala 511.
Por enquanto, apenas rogo que tratem bem esta magnífica sala 511, do prédio 11, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, que como uma mãe, desde o primeiro semestre, tem acolhido estudantes de Direito em busca de conhecimento.

terça-feira, 8 de março de 2011

Crônica de Porto Alegre em férias.


Foto: Maurício Esteves
Há um tempo, Porto Alegre ficava absolutamente deserta durante as férias escolares, ocasião em que os "estrangeiros" se encaminhavam em peso "pra'praia". Entretanto, ao contrário do que todos pensam, hoje em dia esta situação não se sustenta. A cidade não fica vazia, mas entregue aos porto alegrenses. O trânsito circula melhor. As filas em estabelecimentos comerciais diminuem. As buzinas loucas dos estressados motoristas de carros não são ouvidas. E o nível de estresse das pessoas diminui. Parece que tudo flui melhor. A cidade fica tranquila e serena.

Os "estrangeiros", pessoas que habitam as ruas da capital por necessidade familiar, profissional ou interesse, acabam superlotando as ruas da cidade. Quando chega Dezembro, estes vão "pra'praia" e lá ficam até o final do Carnaval, quando retornam ao asfalto da capital e a rotina da cidade volta ao normal. Ficar em Porto Alegre durante estes meses parece quase um crime. Os "estrangeiros" ficam surpresos quando afirmo que ficarei por aqui durante as férias. A sensação de ficar na cidade é a mesma de estar cometendo um crime.

Todavia, o crime de ficar na cidade compensa. Pegar um ônibus de tardezinha no centro passa a ser uma atividade tranquila. Nos restaurantes, bares, teatros e cinemas não se percebe a usual batalha por lugares. Trata-se da melhor época para ficar em Porto Alegre. Quando ela fica entregue aos porto alegrenses. Filosofia na qual me filio ao grande Luis Fernando Veríssimo.

segunda-feira, 7 de março de 2011

ISS e Software.


Segundo reportagem da revista Visão Jurídica, nº 58: "LC 116/03, que prevê cobrança de imposto sobre cessão de direito de uso de programas, é inconstitucional". 

Autoria de Ricardo Cestari, o texto afirma que a cobrança de imposto sobre cessão de direito de uso de software, conforme a Lei Complementar 116/03, mais precisamente conforme o item 1.05, é inconstitucional. Isto deriva, segundo o autor, de ofensa ao artigo 156, inciso III, da CF/1988. 

Cediço de que o ICMS incide sobre a transmissão da titularidade de bens, alvo de operações mercantis, bem como o ISS sobre a prestação de um serviço, entende o autor que no contrato de cessão de direitos de uso do software não incide imposto algum. Isso porque não se vislumbra nenhuma prestação de serviço, tampouco transmissão da titularidade do bem. Ao contrário, a cessão de direito de uso de software configura-se no direito privado como 'obrigação de dar' ou entregar a licença de uso. E nem por isso há que se falar em incidência do ICMS, pois não ocorre a transferência da titularidade, mas apenas a entrega da licença de uso por tempo determinado.

A jurisprudência dos Tribunais pátrios, após longos debates, definiu que o ICMS incide sobre o software vendido em prateleiras, sem destinatário específico, enquanto que o ISS incide sobre software feito por encomenda e sobre a cessão de seu direito de uso.

Conforme o autor, ninguém se insurgiu contra esta situação, haja vista a ausência de precedentes julgados pelo Supremo Tribunal Federal sobre o tema. Cabe, então, que as empresas que recolhem o imposto sobre a cessão de direito de uso de software se insurjam sobre esta questão.

domingo, 6 de março de 2011

L' Ange de Stuc, Jean Baudrillard.


Ontem, fui presenteado com um livro fenomenal. Trata-se da obra "L'Ange de Stuc", traduzido como "O Anjo de Estuque". Um livro de poesia e fotografia do grande sociólogo e filósofo Jean Baudrillard. O contato que tinha com sua obra se resumia a textos acadêmicos. Nunca imaginei haver um livro de poesia de sua autoria. Muito menos um fantástico livro em que "imagens e palavras ecoam e refletem-se numa infinidade de sentidos, de fragmentos e de perplexidade", como descrever os editores da Sulina.

"Jean Baudrillard revela-se aqui um poeta da imagem e um fotógrafo da palavra. A gente começa a ver o mundo como se tivesse um buraco na nuca. A vida pelo avesso". (Nota dos editores).

Indico esse livro a todos os interessados na obra de Baudrillard. As imagens são belas. A poesia riquíssima. Além do mais, agradeço ao meu grande amigo Fábio Garcia que me presenteou com essa fantástica obra.

"Um relógio sem ponteiros impõe o tempo, mas deixa adivinhar a hora". Baudrillard

sexta-feira, 4 de março de 2011

Impressões de um Pós-Moderno, por Fabrício Maia.

Este texto é de autoria de um grande parceiro de pesquisa, Fabrício Maia.


Nasci nos anos 80, vivi minha infância e pré-adolescência nos anos 90 e grande parte da minha carga cognitiva é construída nos anos 2000. Penso e me pergunto: Por que não pensar naqueles que me trouxeram até aqui?
Eis que resolvi escrever um pequeno e modesto texto com as impressões de um pós-moderno, atrelado à internet e as  mazelas que somos expostos, incluindo relações virtuais, literalmente. Não vemos mais o rosto do outro, mas apenas a "persona" por aquela indicada em sua página social.
Nada do que vivemos aqui é fruto do acaso, ao contrário, quando nos posicionamos e observamos que somos sujeitos da pós-modernidade devemos entender que o paradigma da modernidade, anterior ao nosso atual estado, e suas verdades absolutas foram desmanchadas na Segunda Guerra Mundial. E esse é o ponto nevrálgico do meu pensamento. E isso é uma construção humana da qual jamais poderemos nos esquivar.
Alguns podem estar se perguntando: O que a Segunda Guerra Mundial tem a ver com a minha vida hoje? Posso afirmar a estes que TUDO!
Lembro-me como se fosse hoje de uma colega de escola que um dia perguntou para um grande amigo meu: o que me importa a segunda guerra mundial? Ele de pronto respondeu e jamais esqueci: “Se tu tens o direito de comprar uma calça jeans, certamente, foi por conta da história dessa guerra”. E é essa marca histórica que todos devemos respeitar.
Imaginemos nós o mundo existente entre 1920(*) e 1945! Nazistas, comunistas, socialistas e liberais. Estados Unidos e União Soviética! Muita riqueza cultural, muitos objetivos e todos os dogmas jogados do caldeirão chamado Planeta Terra. Impossível essas diferenças não fervilharem.
A ruína de 1929, a ascensão do comunismo, o nascimento do Estado de bem estar social e Adolf Hitler. Quando o planeta viu-se com tamanha diversidade, mas com tanta intolerância em relação aos projetos de mundo existentes no período? Penso que nunca. A “verdade” dos projetos de mundo e a intolerância como fruto da Modernidade que visava responder sobre tudo, numa pretensa tentativa de colocar o mundo num trilho que levaria direto para à "certeza absoluta", apenas nos jogou em  mais uma Guerra, a mais sangrenta guerra de todos os tempos.
Claramente podemos ver que o mundo das certezas e dos rituais dogmáticos falhou. Apesar de todo o sofrimento e sangue derramado, todas as conquistas que foram efetivadas pelo significado da guerra, inclusive a inserção da mulher no mercado de trabalho e, portanto, no mundo das decisões, as novas concepções de direitos fundamentais que nascem no pós-guerra e que sustentam a base do pensamento do direito hoje, infelizmente, estão jogadas ao esquecimento.
Num mundo complexo, cada vez mais dinâmico e aberto uma reflexão é deveras importante.  Pensando na transformação que o sofrimento de muitos foi capaz de nos dar (exceto alguns países como Portugal que, vergonhosamente, ostenta um monumento em homenagem a sua posição neutra na Segunda Guerra) penso que um retorno à gênese da história recente é algo que nos remete a verificar o quão importante foram aqueles que um dia derramaram sangue por nós. Não foi apenas um crucificado, mas sim, milhões de almas que restaram destroçadas e que lutaram por seus ideais, ideais que hoje, como afirmou aquele meu amigo no inicio desse texto, nos faz “apenas” ser livres para comprar uma simples calça jeans. O real significado de um conflito de 71 anos atrás se encontra naquilo que a gente menos espera, e um olhar mais aguçado em cada representação daquele período pode ser, em larga medida, um antídoto contra as crises de identidade que vivemos na pós-modernidade.
Vivemos num mundo cujas pessoas queixam-se lançando disparates com uma frequência cada vez maior. Estas esquecem que para chegarmos ao atual estágio de liberdade e de proteção aos nossos direitos fundamentais muitos lutaram e morreram e por isso lanço o questionamento: será que era realmente isso que todos os envolvidos naquele conflito desejavam para nós, pós-modernos?

quinta-feira, 3 de março de 2011

A eterna Porto Alegre do eterno Mário Quintana.

Sou absolutamente apaixonado por Porto Alegre. Cada rua tem uma história diferente. Cada esquina uma beleza exuberante. Berço de grandes poetas, minha cidade é conhecida mundo a fora graças a eles. Diversos grandes escritores a homenagearam, mas um deles se destacou. Viveu Porto Alegre como nem um outro. E com grande perspicácia e criatividade a descreveu. Trata-se de Mário Quintana. No coração de Porto Alegre viveu. No coração de Porto Alegre se eternizou. Esta é uma pequena homenagem a este grande Porto Alegrense. 

O Mapa

Olho o mapa da cidade 
Como quem examinasse 
A anatomia de um corpo... 
(É nem que fosse meu corpo!) 
Sinto uma dor esquisita 
Das ruas de Porto Alegre 
Onde jamais passarei... 
Há tanta esquina esquisita 
Tanta nuança de paredes 
Há tanta moça bonita 
Nas ruas que não andei 
(E há uma rua encantada 
Que nem em sonhos sonhei...) 
Quando eu for, um dia desses, 
Poeira ou folha levada 
No vento da madrugada, 
Serei um pouco do nada 
Invisível, delicioso 
Que faz com que o teu ar 
Pareça mais um olhar 
Suave mistério amoroso 
Cidade de meu andar 
(Deste já tão longo andar!) 

E talvez de meu repouso... 
(Mário Quintana). 

terça-feira, 1 de março de 2011

Edgar Morin


Edgar Morin é um dos meus autores favoritos. Esta é uma citação da obra Introdução ao Pensamento Complexo.

’Em toda minha vida, jamais pude me resignar ao saber fragmentado, pude isolar um objeto de estudo de seu contexto, de seus antecedentes, de seu devenir. Sempre aspirei a um pensamento multidimensional. Jamais pude eliminar a contradição interna. Sempre senti que verdades profundas, antagônicas umas às outras, eram para mim complementares, sem deixarem de ser antagônicas. Jamais quis reduzir a força a incerteza e a ambigüidade.” (Introdução ao Pensamento Complexo, Edgar Morin).

Crônica Elevador.

O artefato utilizado para facilitar o transporte de pessoas, chamado de elevador, até hoje me fascina. Lembro a primeira vez que utilizei um objeto desses. A sensação foi como estar sendo tele-transportado.

Quando era criança, adorava os elevadores panorâmicos. Apertava no andar mais alto e descia até o térreo. Quando reunia alguns amigos  e  havia mais elevadores disponíveis, fazíamos competição de quem conseguia ir até o último andar e voltar ao térreo com maior rapidez.

Meu cachorro Todi, um simpático daschund, adorava os elevadores também. Não queria saber de usar as escadas. Assim que colocava suas patas para fora de casa, nos horários de suas passeadas, ia direto à porta do elevador. Sempre tive curiosidade de saber o que ele pensava quando entrava no elevador. Seria algo como: "Fantástico. É só entrar nessa porta, esperar alguns segundos, abrir a porta e estarei no lugar que desejar". Com certeza ele devia pensar que se tratava de uma máquina de tele-transporte. Uma vez  preguei-lhe uma "peça". Entrei no elevador, mas não apertei botão algum. Esperei alguns segundo e abri a porta do elevador no mesmo andar. Uma confusão mental tomou conta do cão. Deve ter pensando: "O que foi que deu errado dessa vez? Porque não estou onde queria?"

Mas voltando ao tópico inicial, a situação pode ser ainda mais cômica em se tratando de um Centro Empresarial. No interior desses arranha-céus, as mesmas pessoas se cruzam nos elevadores diariamente. Na maioria das vezes, nas mesmas horas do dia. Entretanto, limitam-se a uma tímida troca de olhares, "bom dia", "boa tarde, "boa noite, quando esses cumprimentos escapam da ponta da língua. Não sabemos nada dessas pessoas, mas a sensação de intimidade é grande, afinal, convivemos com esses estranhos-conhecidos todos os dias, em um relacionamento de elevador.

Cada elevador produz um sentimento (ou constrangimento) diferente. Trata-se de uma pequena comunidade formada por alguns segundos. Depois disso é dissolvida e outra comunidade é formada. Duas pessoas em um elevador é uma comunidade. Nestes segundos, podemos ficar a par da vida de outra pessoa, ter que aguentar um cheiro ruim, ver uma briga de namorados, admirar a beleza de uma mulher, etc. Os cinco sentidos ficam aguçados no interior dos elevadores. Vai ver é por isso estão colocando publicidade dentro dos elevadores.

Andar de elevador não é simples quanto parece. De repente perdi o fascínio por ele. Este momento pode guardar muitas emoções para poucos segundos de relaxamento. Por isso, agora, prefiro pegar escadas. De preferência rolantes.