quinta-feira, 10 de março de 2011

Alegria de piá

Era mais um dia do intenso verão porto alegrense. Nada de mais acontecia, apenas outro daqueles dias em que se não fosse pelo calendário acusar uma quarta-feira não poderia distingui-la da terça ou da quinta-feira.
Encontrava-me na parada do ônibus, sob o forte calor do meio dia. Pingava suor pela testa, pelo corpo todo... Logo pensei na chance de o veículo de transporte público que iria me levar ao centro da cidade ser desprovido de ar-condicionado, o que aumentava ainda mais meu calor e o estresse.
Finalmente, chegou o ônibus! Para meu desespero, sem ar. Entrei e fui direto para o fundo, em busca de uma escassa corrente de vento. Sentei e o veículo começou a  locomover-se. O silêncio era abissal em seu interior, com exceção do barulho que o próprio ônibus fazia algo como ferro batendo em ferro, como se ele fosse se despedaçar a qualquer momento.
De repente, algo quebrou aquele silêncio. Um piá, como gostamos de dizer aqui no Sul, de uns 10 anos idade, não mais do que isso, adentra ao veículo demonstrando uma súbita felicidade. Fiquei incrédulo, mas ele realmente estava empolgado por estar andando de ônibus em plena quarta-feira, ao meio dia, com muito calor. Para eu atingir aquela mesma felicidade precisaria estar passeando de Ferrari em Miami Beach em meu período de férias.
Cada curva era um motivo para se alegrar. O guri foi direto para o fundo do veiculo e insistia em chamar sua mãe, que o acompanhava na aventura, para demonstrar que estava andando de ônibus. O trajeto até o centro foi um êxtase para aquele  menino que estava muito empolgado com a aventura.
Tenho que admitir uma coisa. De tanto que já andei de ônibus não vejo mais graça alguma. Por um momento, entretanto, lembrei do  pequeno e distante “eu” que se divertia tanto quanto, em poder andar de ônibus e lotação com sua avó. Foi um momento de saudosismo lembrar a emoção e felicidade que sentia nas coisas simples da vida: como poder andar de ônibus em um dia de semana com minha avó!
Voltei à realidade, entretanto. O ônibus havia chegado ao centro... Enquanto o menino descia no final da linha, lembrei que já estava atrasado para o trabalho.

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