Historicamente, a pirataria é o principal fantasma da indústria da televisão e da música, que sofrem com o crescimento dos downloads ilegais, mormente com advento das novas tecnologias. Entretanto, este "fantasma" pode estar cedendo espaço para outra forma de pensar a pirataria. Para alguns produtores de áudio e vídeo, por exemplo, atualmente o mais importante é que seus produtos sejam conhecidos e comentados, independentemente da forma como o público consumidor terá acesso ao conteúdo, seja de forma lícita ou ilícita.
"Game of Thrones" é a série de televisão que sempre liderou o ranking dos downloads ilegais na Internet. Recentemente, entretanto, a empresa CEG TEK [1], especialista em antipirataria, revelou que os downloads ilegais de séries, como "Scandal" e "Breaking Bad", aumentaram cerca de 340% após a divulgação dos vencedores do Emmy Award, premiação atribuida a programas televisivos, no último dia 25 de agosto de 2014, deixando a série “Game of Thrones” para trás.
Para
ser mais preciso as séries "Scandal" e "Breaking Bad",
vencedoras dos prêmios em 2014 na categoria de séries dramáticas, foram as que
mais sofreram com crescimentos dos downloads ilegais, nos últimos dias, em
cerca 1.630% e 412%, respectivamente. Já as séries, "True Detective",
"House of Cards" e "Homeland" viram seus downloads ilegais
aumentarem em cerca 340% [2] [3].
De
modo geral, o crescimento da pirataria desagrada a indústria do entretenimento,
que investe milhões nas produções de séries, filmes e músicas. Entretanto, uma
segunda face da pirataria parece estar mudando a forma de pensar de alguns
produtores, que afirmam não se incomodarem com o crescimento do consumo ilegal
de conteúdo protegido por Direito Autoral, desde que suas obras se tornem
conhecidas, famosas e comentadas pelo público em geral. A expectativa, é que o
prejuízo sofrido com a pirataria acabe retornando através de outros meios, tais
como ações de publicidade e marketing.
De
fato, a expectativa da indústria televisa pode vir a se confirmar, a espelho do
que vem acontecendo com a indústria da música. Segundo estudo publicado pelo
Centro de Pesquisa Conjunta da Comissão Europeia [4], que consultou os hábitos
de 16 mil usuários Europeus, baixar música ilegal não causa danos à indústria
da música. Ao contrário, muito do que é consumido de forma legal, não teria
sido comprado se a pirataria não estivesse presente. Isso porque, ao que tudo
indica, consumidores que compram músicas digitais usam o download ilegal como
uma amostra daquilo que desejam adquirir.
Neste
cenário, importa lembrar, que um dos maiores êxitos da indústria da música,
conforme consta na conclusão do estudo mencionado, foi o de abraçar a era
digital e as suas muitas oportunidades de negócios. Na verdade, desde que a
indústria da música se inseriu nas vendas digitais (iTunes, em 2003), as
receitas de música digital licenciadas aumentaram mais de 1000%, durante o
período 2004-2010, nos Estados Unidos, e cerca de 8% no mundo em 2011 (IFPI,
2011, 2012).
Ao
que tudo indica, portanto, parece que a indústria da televisão está abandonando
seus fantasmas, e começando a notar a existência de uma segunda face para a irreversível
pirataria. É preciso adaptar-se a Era Digital, e deixar os fantasmas do passado
para trás. É preciso vislumbrar novas oportunidades de negócios.
NOTAS:
[1]
CEG TEK: http://www.cegtek.com/press.html
[2]
Veja: Pirataria de séries cresce até 1.630% depois do Emmy - http://veja.abril.com.br/noticia/entretenimento/pirataria-de-series-cresce-ate-1630-depois-do-emmy
[3]
The Washington Post: Emmy winners also score big with pirates
[4] Digital
Music Consumption on the Internet: Evidence from Clickstream Data - http://ftp.jrc.es/EURdoc/JRC79605.pdf
Por
Maurício Brum Esteves
*Publicado em http://www.piccininiserrano.com.br/novas-tecnologias-e-as-duas-faces-da-pirataria/
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