Adoro a obra de Albert Camus. Esta é uma das mais magníficas passagens de sua obra, em O Estrangeiro.
Espero que gostem!
“Caminhamos ao encontro do amor e do desejo. Não buscamos lições, nem a amarga filosofia que se exige da grandeza. Além do sol, dos beijos e dos perfumes selvagens, tudo o mais nos parece fútil. Quanto a mim, não procuro estar sozinho nesse lugar. Muitas vezes estive aqui com aqueles que amava, e discernia em seus traços o claro sorriso que neles tomava a face do amor. Deixo a outros a ordem e a medida. Domina-me por completo a grande libertinagem da natureza e do mar.
Nunca conseguira arrepender-me verdadeiramente de nada. Assaltaram-me as lembranças de uma vida que já não me pertencia, mas onde encontrara as mais pobres e as mais tenazes das minhas alegrias: cheiros de verão, o bairro que eu amava, um certo céu de entardecer, o riso e os vestidos de Marie.
Respondi que nunca se muda de vida; que, em todo o caso, todas se equivaliam, e que a minha, aqui, não me desagradava em absoluto.
- Não, não consigo acreditar. Tenho certeza de que já lhe ocorreu desejar uma outra vida.
Respondi-lhe que naturalmente, mas que isso era tão importante quando desejar ser rico, nadar muito de pressa ou ter uma boca mais bem feita. Era da mesma ordem. Mas ele me deteve e quis saber como eu imaginava essa outra vida.
Então gritei:
-Uma vida na qual me pudesse lembrar desta vida.
Também me sinto pronto a reviver tudo. Como se esta grande cólera me tivesse purificado do mal, esvaziado de esperanças, diante desta noite carregada de sinais e de estrelas, eu me abria pela primeira vez à tenra indiferença do mundo. Por senti-lo tão parecido comigo, tão fraternal, enfim, senti que fora feliz e que ainda o era.” (O Estrangeiro)
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